25.11.07

Pedro e o Lobo

1 Era uma vez um rapaz que vivia no meio da floresta, onde de manhã cantavam os pássaros e à noite uivavam os lobos.
2 A sua casa tinha muitas janelas, mas a paisagem era a mesma em cada uma
3 Cansava-se, por isso, de estar sozinho e abrindo as janelas gritava: - Socorro, que vem lobo!
4 Dos que viviam no povoado alguns subiam a encosta a socorrê-lo, mas desciam furiosos, pensando que troçavam deles.
5 O rapaz não troçava de ninguém,
6 De se repetirem os seus gritos tornaram-se indiferentes. Já não os distinguiam. Tornaram-se comuns como o mugir do gado, o bater do sino, o tossir dos velhos.
7 Mas um dia, estava o rapaz em casa, um lobo veio muito de mansinho – o rapaz nem sabe se o viu ou se gritou – e feriu-o bem no coração.
8 O lobo deitou-se, depois, aos pés do rapaz e o rapaz, com a mão em sangue, afagava-lhe devagar o pelo, enquanto que com a cabeça encostada ao seu focinho lhe ia dizendo ao ouvido:
- Socorro, socorro…


Daniel Faria, LJ



foto de lilya corneli

9 comentários:

Hugo Milhanas Machado disse...

Lemos aqui há dias o Daniel na primeira jornada do ciclo Do Outro Lado Mar. Foi muito bonito... Salamanca gostou, os alunos já sabem dois ou três versos. E dizem: a magnólia, a magnólia, meu leitor. Muito bonito.

Esta semana Daniel Jonas. Soltaremos os fantasmas inquilinos, e vizinhança!

Beijos

HMM

petroy disse...

ferido de morte ... havia afinal ... sido salvo

sophiarui disse...

quase que chorei musalia...

(...)

abracinho bom

Sophia disse...

Melhor versão... faz-me pensar em quantas vezes não gritamos lobo em vez de admitir que precisamos de alguém.

Baci :)

musalia disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
musalia disse...

exactamente, petroy. uma belissima inversão da história...

musalia disse...

lindissimo, não é?

abracinho, sophiarui

musalia disse...

podemos não precisar de alguém, mas de exaurirmos a nossa angústia...
bjs., sophia.

musalia disse...

de Jonas, um aroma:

Ó noite, vale umbroso, com teu xaile de corvos,
Com tuas mãos, cobre-me!
Vem sobre mim, ó noite mãe, enterra-me!
Sob teus alçapões medonhos de estéreis fundos,
Dá-me à tua negra luz,
Tecedora aracnídea, cigana,
Este homem tuas saias escondam,
Imitações, influências, lençóis sidéreos,
De lacre espesso as lágrimas:
A gruta nupcial!, a gruta nupcial!
...

Beijos