É aquele travo agri-doce que nos faz crescer o desejo de saborear, primeiro em pequenas manchas na ponta dos dedos, depois em colheres cheias, o aroma perfumado das ameixas. O tempo de iniciar as compotas, de as armazenar para o Inverno que se aproxima, de retê-las em frascos transparentes, a luz retirando colorações quentes, vibrantes, a um Verão que se despede lentamente.
O mercado e a bancada de frutas da Fernanda. Face redonda, prazenteira, de quem desponta quando o sol ainda não se levantou para colher, da terra, as promessas regadas pela chuva. Desta vez, foi o sorriso das ameixas, que se vai demorando em tempo já de despedida, rubro, intenso de polpa a que a boca não nega o afago. Depois, são as mãos que mergulham no suco generoso, rompendo a pele, desfazendo em volúpia, a carnação do fruto que se oferece. A junção do açúcar, mancha branca alastrando em rosados cada vez mais intensos até se diluir completamente, em união perfeita. E o pauzinho de canela, em toque exótico, quebrando os excessos da doçura.
E nesse namoro dos aromas, o olhar vigia, ciumento, não vá a paixão escondida pela espuma, transbordar, expandir-se pela casa. Nesse ponto, em que o jogo apaixonado se intensifica, a embriaguez invade a união dos elementos, ofertando-nos esses arroubos, guardados em espaços cristalinos, para momentos em que a alma se resfria. É o tempero da aguardente de medronho, acariciando as transparências que os acolhem nos excessos.
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