8.10.04

chá de jasmim


Como gosto de chá! Quente, gelado, com limão. Mas sem açúcar. Saborear os aromas, de flores, frutos, folhas perfumadas, com o toque agri-doce da infusão dos sentidos.
Mas lembro-me de um chá, chinês, de raízes estranhas e sabor amargo que um dia me ofereceram.
Nessa época, o trabalho pedia-me a presença presa a uma pequena secretária, controlando a imprensa estrangeira e dando-lhe apoio. Durante três dias, desde as 8:00 da manhã até noite adiantada, o meu círculo de movimentos mantinha-se em rota restrita. E, desde o primeiro dia, uma figura silenciosa, discreta, cumprimentava-me com um sorriso cheio de mistério oriental. Passava junto à mesa, recolhia as folhas que entretanto iam surgindo e descia à sala destinada à imprensa. No segundo dia, passou como de costume na sombra disfarçada do sorriso e fez o percurso habitual. A meio da tarde, subiu até ao piso onde me encontrava e dirigiu-se-me num inglês arrevezado. Comentou a dureza do meu trabalho e, num olhar espantado e cheio de pena, desabafou, deve estar muito cansada, está sempre aqui! No último dia, vejo-o aparecer, o sorriso colado na face, segurando com cuidado um embrulho em papel vermelho com laço dourado. Não disse nada, apenas colocou o presente à minha frente. Perante o meu gesto instintivo de recusa, explicou, essa infusão é muito antiga e vai fazer-lhe bem. Desapareceu e não mais o vi. Arrumei o pacote do chá durante muito tempo, sem lhe mexer. Um dia, resolvi prová-lo e...era intragável. Deitei-o fora mas guardei o sorriso misterioso.
E como gosto de chás! O meu preferido é o de jasmim, sorvido em pequenos golos, saboreado na doçura de uma tarde solarenga, frente ao rio. Olhar perdido no movimento do Tejo, sentindo a ventania correr forte no corpo, agitando as águas em sentido contrário à corrente. O meu chá de jasmim. Mantenho ainda o sabor do seu perfume.

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