29.11.04

a velha cisterna


Georges Braque, Paysage


Cansada do caminho. Mas não sei que caminho.
Entrevejo veredas, todas diferentes mas tão iguais. Percorridas vezes sem fim, sem as tocar, sem sentir o pó que os passos levantam.

A casa, finalmente, a casa! Quase a esquecera. Demorada sobre a paisagem, em jeito lânguido, absorvendo gosto de maresia.
O traçado original manteve-se na distribuição dos volumes, duas alas separadas por portadas fortes de madeira, lisa, castanho ouro.
O que mudou foi a perspectiva. Paredes lisas, rasgadas por transparências, espreitando o olhar de quem passa. Murou-se o jardim, percorrido por enormes palmeiras, ar exótico disfarçado por carreiros de saibro dispostos ao acaso de quem mede cuidadosamente as pedras.
Sorrio ao descobrir a velha cisterna. O proprietário actual resguardou-a, vá-se lá saber porquê. Talvez a pense como o espírito do lugar, âmago de uma vivência passada.

Tantas vezes percorridas, as veredas. A elas regresso quando já não sei o caminho.
Partirei na próxima semana.

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