11.7.05

Ler De-va-gar

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Velhas ruelas plenas de matizes manuelinos em esquadrias desiguais. Esgueirando, na Rua da Rosa, o gaveto. e os dois degraus antecedendo a porta. Dentro, em gradações de espaço, as palavras aguardam o abraço do olhar. Sussurrantes, passos rodeiam as estantes, volteiam em torno das mesas, agarram o novo e o preciosamente guardado. Ao fundo, o canto da palavra dita, quebrando o meio silêncio da leitura. Noites de permuta, de reflexão, de espontaneidade. Por vezes, sons fortes de sapateado, em rodopio de dança. Ao lado, espaço de descoberta de sons, esquecidos no passar dos anos. Aromas de café, aconchegando a atenção de quem se perde no escoar das horas.
Pontualmente, a leitura das pedras em demanda de varandas joaninas, portais com história secular, soletrando lajes, observando muros cordeando fachadas. Lembranças de Lisboa manuelina, pelos olhos estudados de Helder Carita. Terminando em porto de honra num velho solar. O calor das conversas, o sabor do néctar e a promessa de repetição. Debaixo de uma chuva miudinha, de um sábado não longínquo.

Descendo São Boaventura, a vizinhança amena do Eterno Retorno. Em luz difusa, sons cruzam a poesia de vozes do acaso, libertas, em desejo de harmonia. O piano, aberto, aguarda apenas as mãos de quem passa, a solo ou acompanhando a guitarra aconchegada a qualquer peito. As estantes e os livros. Actuais, raros. Finalmente o reencontro Da Saudade ao Saudosismo de António Botelho, edição esgotada.
Em noites de aniversário, a fatia de bolo percorre as mesas, sem distinção de quem está. Apenas basta chegar.
Mais solitário ficará, o Eterno Retorno.

Ler Devagar
Rua de São Boaventura, 115


Mas nunca ia devagar. Percorria as ruas estreitas em ânsia de chegada.



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