3.7.05

saudade

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Foram os olhos, sim. Laura sentira-o. Grandes, alagados em negrume, fugidios na permanência e no jeito de falar. Irrequieta presença tomando o momento, apertando-o com ânsia. E o discurso fluindo, desdobrando-se em maré viva, atingindo-a como uma onda, deixando-lhe gosto de maresia. Laura sorria, sentindo as palavras deslizarem sobre a pele, os dedos acariciando os sons, o olhar buscando a noite aveludada dos seus olhos.
Não sabia bem se temera esse encontro. Fora tão súbito, inesperado, deixando pouco espaço para reflexões. Decidira e ali estava. Agora sentia a ternura invadi-la, uma vontade de abraçar, quase necessidade irreprimível de tocar esse corpo à sua frente, enquanto a voz dançava em azougada harmonia.
Foram os olhos, sim. Laura sentira-o nesse dia. Hoje, sentia a saudade desse abraço que não se dera, a carícia dessa boca que não se escondera na sua. A saudade de derramar sobre esse corpo o desejo que a queimara.


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