14.10.05

o poema sobre o poema

Cada momento passados juntos
Era uma celebração, uma Epifania,
Nós os dois sozinhos no mundo.
Tu, tão audaz, mais leve que uma asa,
Descias numa vertigem a escada
A dois e dois, arrastando-me
Através de húmidos lilases, aos teus domínios
Do outro lado, passando o espelho.

Arseni Tarkovski

NUNCA NADA ASSIM TÃO FORTE, COMO NAQUELA MANHÃ os teus olhos, os teus olhos, como dizer os teus olhos naquela manhã, sob a luz de Julho, as pupilas abertas, um brilho inexplicável a puxar-me para dentro de ti, como se me engolisses de repente, eu as coisas suspensas à minha volta - (...) caindo dentro das pupilas abertas dos teus olhos, através do brilho inexplicável dos teus olhos. Não me peças rigor, não me peças nada. Havia ali perto um jardim, este jardim. (...) desapareceste. E eu não voltei a olhar para outros olhos, neste jardim agora obscenamente iluminado.

José Mário Silva




recorto-os da folha do jornal, religiosamente. só tenho pena, tanta pena, que não continues a escrever no teu espaço


José Mário Silva, "Verso dos Versos" in DNA.

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