7.10.06

soror mariana das cinco cartas...

Pois que toda a literatura é uma longa carta a um interlocutor invisível, presente, possível ou futura paixão que liquidamos, alimentamos ou procuramos. E já foi dito que não interessa tanto o objecto, apenas o pretexto, mas antes a paixão; e eu acrescento que não interessa tanto a paixão, apenas pretexto, mas antes o seu exercício.
(...) só nos perguntaremos então qual o modo do nosso exercício, se nostalgia, se vingança. Sim, sem dúvida que nostalgia é também uma forma de vingança, e vingança uma forma de nostalgia...

Só de nostalgias faremos uma irmandade
e um convento, Soror Mariana das cinco cartas.
Só de vinganças, faremos um Outubro, um Maio,
e novo mês para cobrir o calendário.
E de nós, o que faremos?



E se não acredito em mim o amor como sentimento totalmente verdadeiro a não ser a partir da minha imperativa necessidade em inventá-lo (logo já ele é verdadeiro mas tu não), recuso-me a negá-lo no entanto pois na realidade existe, é em si mesmo: vício, urgência, precipício, enquanto tu serves apenas de motivação, de início, de peça envolvente em que te arrasto neste meu muito maior prazer em me sentir apaixonada que em amar-te. Neste meu muito maior prazer em dizer que te amo do que na verdade em querer-te.


Não é falso, então, se te escrevo:
"Sei que te perdi e me afundo, me perco também dentro da minha total ausência de poder em que me queiras".
E assim sofro, aparentemente porque te amo, mas antes porque o perco o motivo de alimento da minha paixão, a quem talvez bem mais queira do que a ti.

Novas Cartas Portuguesas

Maria Isabel Barreno
Maria Teresa Horta
Maria Velho da Costa


foto de push-pin
imagens do Convento das Bernardas


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