22.1.08

à primeira vista (leitura) parece um paradoxo e
quase um sacrilégio, mas pode tornar-se interessante...


(...) a linguagem pode encontrar na sua travessia do livro o meio de falar do que se esconde habitualmente em nós.
Para lá da possibilidade da descoberta de si, o discurso sobre os livros não lidos coloca-nos no coração do processo criativo, porque nos reconduz à origem. Porque ele dá a ver o sujeito nascendo da criação, fazendo viver àquele que o pratica este momento inaugural da separação de si mesmo e dos livros onde o leitor, libertando-se enfim do peso da palavra dos outros, encontra em si a força de inventar o seu próprio texto de tornar-se escritor
.


Pierre Bayard, Como falar dos livros que não lemos?
(o autor é professor de literatura francesa na Universidade Paris VIII)

6 comentários:

clarinda disse...

Um livro falado é um exercício de criatividade, sem direitos de autor. Pode-se falar de um livro que nunca se leu, mas acho pouco provável que isso seja uma regra seguida por quem gosta de falar de livros.

Beijinhos

Cometa 2000 disse...

como disseste, "pode ser interessante".

faz-me lembrar o mundo dos blogs em que tantas vezes comentamos imagens e frases descontextualizadas. gosto!

sem qualquer ponto de partida é mais difícil... não sei se aguentava muito tempo o exercício.

musalia disse...

conforme o ensaio deste autor, é mais corrente do que parece...
bom, terás de ler o livro (quando tiveres tempo), aqui, não vale a não-leitura ;)

beijinhos, laerce.

musalia disse...

cometa 2000, de facto, este excerto parece descontextualizado, tens razão.
mas há um ponto de partida, sim. a análise de como nos aproximamos da leitura e demonstrar que nada há de errado em não lermos as (ou algumas) obras consideradas obrigatórias. Pierre Bayard cita Musil, focando a figura extrema do bibliotecário, na obra "L'homme sans qualités", defendendo a 'ideia de conjunto'.
diz Bayard: 'a cultura é acima de tudo uma questão de orientação. Ser culto nao é ter lido tal ou tal livro, é saber situar-se no conjunto e é estar à altura de situar um elemento relativamente aos outros'
evidentemente, que isto significa conhecer a 'sua situação' sem que o tenhamos lido...

parece complicado, mas não é :)

dora disse...

passei por ele na livraria, na próxima pego-lhe.

musalia disse...

vale a pena um olhar, pelo menos, Dora :)