16.3.08

...fragmentos trémulos de uma vontade suspensa...


Nem te dás bem conta, não sabes explicar, mas há um dia em que começas. Vais caminhando dentro da tua casa, às voltas, até te perderes.

Vais percebendo, meditando no teu caso, que aquele pouco que hoje ainda te habita estará também a ponto de abandonar-te.


Marcas então com etiquetas os objectos, um por um, como quem se entrega a um criterioso e interminável inventário, desenhas a carvão setas enormes ao longo de todas as paredes, gravas um mapa de emergência em cada porta…
por fim, apontas o teu próprio nome…e sentas-te à espera.


José Tolentino Mendonça
Perdoar Helena (excertos)

12 comentários:

petroy disse...

e se os pássaros comerem as migalhas ?

Su disse...

fez-me lembrar um filme que vi........ chorei..poissssss

jocas maradas de tempo

Von disse...

À espera, sentado num monte de almofadas oferecido por um califa enfermo de gota, repenso a luz e a claridade das janelas no horizonte de uma noite na cidade. À espera, por herança, pedido e vontade... Mesmo se o nome não encontrar o caminho de volta a casa.

Von

mixtu disse...

à espera de...
algo saboroso...

abrazo serrano

Cometa 2000 disse...

musalia, curioso como por vezes parece que os nossos post's e comentários se cruzam... como se falássemos das mesmas coisas de formas diferentes.
silêncio, medo, auto-(des)conhecimento, amor, perdão, ...

hoje senti-o assim ligando o último comentário que me fizeste, à frase que publiquei de stendhal e a esta preciosidade de tolentino m. da qual retiro múltiplos sentidos. obrigado.

coloquei um poema de m. r. pedreira a pensar no que disseste sobre o do j.l. peixoto. espero que gostes. :)

joão marinheiro disse...

...Diariamente enlouqueço. Diariamente mato-me na mentira. Então os dias ficam parados e eu espero...
Apetece-me repetir aqui.
Sempre um primor as palavras com que nos brindas.
Abraço deste lado do mar

musalia disse...

deixaremos poemas e os pássaros irão espalhar as palavras no seu voo...
:)

musalia disse...

são belissimas as imagens de José Tolentino M., su :)

musalia disse...

Xerazade encheu a casa de nomes, todas as noites, mil e uma, diz-se. o califa sempre adormecia, esperando a noite seguinte (o que ele não sabia, ah, o que ele não sabia era desse afecto escondido na espera...)

:)

musalia disse...

mixtu :), quem sabe, os folares da Páscoa?

abraço citadino.

musalia disse...

cometa 2000, afinal os temas são recorrentes, a forma de os enunciar é que diferem.

no fundo, o que reconhecemos é a nossa pequenez, a nossa fragilidade perante interrogações que não têm resposta.

mas se não as procurarmos, as respostas, se não as formularmos, as interrogações...o que nos resta?

necessário é exorcizarmos as sombras...

e depois, há o sol, os rostos que cruzam os nossos e os poemas :)

gostei, muito. já te o disse:)

musalia disse...

joão marinheiro, lá desse lado do mundo, as palavras são do poeta, emprestou-mas :)

as máscaras que usamos diariamente...

um abraço.