Era daquelas estações iguais a tantas outras, indistinta e quase suspensa na curva da paisagem. O sol roçava já o caminho percorrido desde as primeiras horas da manhã e
não sabia ao certo quanto tempo teria ainda de esperar pelo próximo comboio. Deslizei no banco e recostei-me na lassidão da espera, fixando a porta envidraçada que se abriria à minha curiosidade. O reflexo do vidro revelou aos meus olhos semicerrados a frescura do pequeno bosque de cedros que se estendia para lá da plataforma. Ensaiei alguns passos, embrenhei-me nas colorações da folhagem acolhendo o caminho que me protegia os pensamentos e me conduzia ao vale. Pequenos ruídos fragmentavam o silêncio, acordando os campos e baloiçando a erva em movimentos dourados, de despertar solarengo, que atingia já as torres do castelo no sopé do horizonte. Desci, apoiando nas sebes o desejo de escutar o som da pequena ponte sobre o riacho, encurtando a distância entre presente e passado. Corri o olhar sobre o prado, respirei o colorido dos lírios e abracei o perfume dos cachos de lilases debruçados na memória secular das pedras. Os passos deixaram para trás o murmúrio da paisagem e acompanharam o deslizar da vereda, continuando o percurso inicial. Assomado no caminho, o salgueiro protegia a cancela estreita, apenas revelada pelo sussurro da manhã plenamente desperta. A minha mão estendeu-se ao de leve, libertando o espaço e cruzando a passagem, mas deteve-se na impossibilidade de continuar. O desenho do vitral terminava ali, a progressão do tempo quebrara os fragmentos do vidro.
O combóio anunciou a chegada e, lentamente, o meu olhar desviou-se da porta envidraçada. Levantei-me e entrei.
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