6.6.04

A MINHA OUTRA CIDADE

Arrumei o que ficara, despi a alma de lembranças e cruzei o espaço. Queria-me liberta para te receber e me tomares, só assim as tuas memórias permaneceriam incólumes e infinitas.
E avassalaste-me. Percorri-te sôfrega e ansiosa inebriando-me a cada amplexo de cor, antecipando as esquinas de paixão que o meu olhar descobriria no teu corpo, em gestos apressados, de quem se quer diluir no teu perfume. Para depois regressar a ti e, já sem pressas, aprender a soletrar o teu prazer.

Na antiga feira, descendo Václavské námesti, às conversas misturava-se o sabor das avelãs partilhadas nas impressões que as telas ofereciam em explosões de cor. Sob a doçura de Mostecká, o velho arco, o passo afagava o lajedo que conduzia a Staromestské onde, na explanada, o gole de cerveja sabia a fim de tarde sonhado nos acordes mozartianos.
A névoa romantizava os teus contornos, e em Mariánské, a velha catedral acolhia o repouso solitário que por momentos me tranquilizava a descoberta. Aí ficava, perdida em pensamentos, acariciando o respirar das minhas sensações. Mas era no Inverno que mais me seduzias. Karluv Most abraçava o rio Vltava num amplexo de magia prateada e lá no cimo, em Prazskýhrad, espreitava-te desdobrando o meu espanto perante a beleza serena que me entontecia.

És a referência que me norteia e à qual volto, sempre que me sinto perdida.

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