Os minutos soavam pela casa. À beira do tempo que se escoava, as imagens espalhavam-se em sequência vertiginosa fazendo-me engolir o café de um trago. De relance, o espelho devolvia a imagem aceitável em encenação perfeita de exterior negando incursões de alma nas costuras bem unidas. Atravessando a rua, largava atrás de mim, esse fio de arame em que o equilíbrio se fazia no cuidado atento de nada fixar e reconhecer para além da atenção concentrada no vazio do olhar. E os espaços, percorridos sem consistência mas em ritmo certeiro, galgavam a vida desses dias em que nada mais era desejável que o cinzento absorvendo o que faltava para o dia seguinte, em repetições a preto e branco. Sem permissões de sombra, porque essas poderiam ser reveladoras.
O barco tomava rumo e sem lhe sentir o balanço a minha presença pairava sob o tom incolor e amortecido dos sons refugiando-se nas páginas coloridas de uma trama qualquer que o livro aberto acompanhava. E lá percorria os caracteres, em personagens reais, as únicas que captavam a minha atenção por permanecerem apenas no interior dos capítulos, sem possibilidade de materialização. E o cuidado era posto na permanência de histórias que se encadeavam em outras histórias, incessantemente, como se a sobrevivência possível se assemelhasse a essa estratégia antiga de Xerazade. Mas sem príncipes nem palácios.
E os quotidianos seguiam a estrada sem desvios, na determinação de não defrontar outras escolhas.
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