2.8.04

Solidão de azul


[ Le Café Crec, Blovin]

Domingo. O dia mais detestável na praia. Egoísta? Fruto de ter crescido nesta imensa extensão de areia, onde os sonhos tomavam forma em construções desmoronadas pelas ondas em tempestades de espuma. Ficava este som de maresia salpicado de sal que o búzio nos devolvia, em carícias sussurradas ao ouvido. Música calmante que o tumulto de vozes e correrias pela praia, impede a percepção. As águas não são apenas cortadas pela passagem esporádica de "traineiras" e "gasolinas" dos velhos pescadores, ou de pequenos botes, de pesca artesanal. Agora, para meu desgosto, nesta pequena baía e em recantos outrora tão límpidos, amontoam-se os iates de gente que "chegou, viu e venceu". Como eu prefiro os gregos!
A praia está mais larga. O Inverno trouxe muita areia e tapou quase todas as pequenas rochas, como pequenas ilhas abrigando colónias de camarões, anémonas e alguns polvos. Era preciso pisar com cuidado o tapete macio e escorregadio de um verde vivo alternado de tons rosa e verde garrafa das algas. Este ano a areia cobriu tudo, apenas as rochas grandes permanecem de vigia.
Uma multitude de chapéus de sol preenche o espaço aberto, deixando pequenas frestas por onde, a medo, se entrevê o movimento azul do mar. Quase custa respirar. Não se deu ainda o reencontro habitual em que essa solidão imensa inunda a alma de paz.

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