25.8.04

Verosimilhança


[V.Van Gogh, Les blés verts ]

Prefiro que me chames Maria.
Olhar tranquilamente sorridente, de pupila esverdeada, pausa sussurrante, well, you have something shinning on your hair.
Johann, é o reflexo do sol...

A vinha estendia-se, rodeava o pequeno muro em que estavam sentados, enleando as palavras em gestos apenas descobertos. Constante, ininterrupto, o som das cigarras ligava-se ao calor tórrido da tarde plena sem que isso os incomodasse ou beliscasse sequer o prazer de estarem juntos. Ambos sabiam que, findo o Verão, as rotas seriam opostas mas não sabiam que as promessas sentidas e trocadas apenas tinham realidade naquele espaço de mar e campo. Sempre assim fora, depois de seduzir o mar devolvia, saciado, os amores que enredara na sua espuma, que abrigara nas suas grutas.
Mas os dias, nesses dias mais sonhados que vividos, as mãos entrelaçavam as horas e retinham o momento de partir, os pés descalços desconheciam a estrada e tomavam por atalhos em que os risos se encontravam, em que, como uma cascata, a paixão submergia, inundava os corpos e salpicava a alma. Sob o cheiro da macieira, os frutos saboreados no prazer de mordiscar a acidez e a doçura prolongavam o espaço em que o amor se entretecia, em ténues linhas de luz e sol.
E era um delírio de tons de fogo misturando-se aos fios dourados de mechas acastanhadas, tomados de empréstimo ao pôr-do-sol, e a pele, doendo de sal e carícia, parecia arder.

Olhar tranquilamente sorridente, de pupila esverdeada, pausa sussurrante, well, your lips are always red...
Johann, é apenas o sol...

Lembranças são como murmúrio de búzios, fecham-se os olhos, ouve-se o som do mar e sente-se o respirar da maresia.

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