26.10.04

mulher-menina



Fico olhando as palavras. Decifro imagens sentindo o desejo de ir mais longe. De espreitar por detrás de cada signo, acariciando, cores, sombras, traços. Como uma dança sedutora, sou por elas arrastada, em rodopio que não domino, em vertigem de linguagem, estonteada pelo sabor perfumado de cada som, pela harmonia saltitante de cada ponto. Em convite, os espaços contidos em reticências hesitantes, são apenas histórias a preto e branco esperando coloridos de mãos apaixonadas.

E em brincadeiras de menina, travessa, azougada, retiro do meu saco de magias, frases enlaçadas, dando-se as mãos, inseparáveis como aquelas figurinhas rasgadas em papéis brilhantes que me deslumbravam em criança. Coloco-as na linha de visão, reconhecendo sentimentos, emoções, afectos. E não sou mais a menina.

O olhar de mulher, recolhe promessas, paixões, em frases desnudadas, acolhidas no olhar cansado, sonhador, de um contador de histórias descoloridas pela solidão e pela ânsia imensa de ternura. Personagem recolhido no meu sonho desse mundo de mulher, revelado em sorrisos de silêncio, entretecido em textos deslumbrados.
E assim, fico olhando as palavras...

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