22.10.04

sinais


Há sinais escritos nas pedras. Desenhados por fino silex, como os que tenho nas mãos. Recolho-as ainda em brilhos de maresia, o ar torna-as baças, altera-lhes as cores. Como os corais, em ilhas de solidão. Nas águas claras e quentes de um oceano onde se movem reflexos vários.
A areia deixa-se sulcar pelos passos. Rastos fundos que a água enche em ondulações de espuma, alisados pela força da corrente. Nada permanece na superfície escorregadia, nem o vai-vem das ondas.
Junto pensamentos em palavras inaudíveis, impenetráveis de sentido. Nem os oiço, no ruído imenso dos silêncios despertos na aragem dos sentidos. E o olhar vagueia, perturba o sossego, sem se fixar em lugar nenhum. Apenas o cheiro forte das algas, abarca a claridade do dia, perdida já no luco-fusco da proximidade da noite.
O grito súbito de um pássaro cruza a quietude do momento. A sombra do seu voo rasga o espaço que me rodeia e no qual me defendo. Estremeço. Recolho os fragmentos em ideias dispersas e faço o percurso inverso.

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