Voltou a florir. Quando menos esperava, despontaram de novo. Flores de cor branca com laivo lilás no folho das pétalas.
Há anos que partilhávamos a luz e o sol das três janelas rasgadas na fachada virada ao rio. Longos anos avistando a palmeira, sonhando exotismos longínquos em horizontes fechados.
Roendo a constância dos dias, aninhara-se em mutismo verde de folhagem cobrindo o vaso. E deixou de florir. O meu olhar distraído, seguia o gesto maquinal da rega necessária sem outro cuidado que lhe adicionasse a vontade de despontar, orgulhosa, a sua magnífica floração.
Mais por acrescento de espaço que de atenção merecida, mudei-a do sítio habitual, fugindo ao meu olhar vazio e à sua postura de ostracismo. O antúrio fez-lhe companhia, retirado de um outro esquecimento. Ambos continuam a observar o rio e a palmeira no seu estatismo fiel, mas desviaram-se de um outro estatismo revelado em gestos esquecidos de calor.
O antúrio ganhou novas folhas e a violeta voltou a florir.
Sem comentários:
Enviar um comentário