14.11.04

com o tempo...


Com o tempo o prado seco reverdece,
Com o tempo cai a folha ao bosque umbroso,
Com o tempo pára o rio caudoloso,
Com o tempo o campo pobre se enriquece,

Com o tempo um louro morre, outro floresce,
Com o tempo um é sereno, outro invernoso,
Com o tempo foge o mal duro e penoso,
Com o tempo torna o bem já quando esquece,

Com o tempo faz mudança a sorte avara,
Com o tempo se aniquila um grande estado,
Com o tempo torna a ser mais eminente.

Com o tempo tudo anda, e tudo pára,
Mas só aquele tempo que é passado
Com o tempo se não faz tempo presente.

(Luís Vaz de Camões)


A avó conhecia todas as plantas aromáticas. Apanhava raminhos apertados em fios de guita e a mãe colocava-os a secar, à sombra que era a forma certa de não perderem os feitiços. Tantos chás para tantas maleitas!
Mas havia um que eu gostava mais que todos. O delicioso, perfumado, chá de poejos. Fazia-me imaginar histórias de mouras encantadas. O aroma aconchegado ao sonho, quase voava, em personagem delineada por Xerazade.

Passeei pelo campo onde outrora corria, solta no vento. Não vi encantos, não senti o perfume da infância. Por entre as amendoeiras, vislumbrei sombras e acreditei que era a avó, com o regaço cheio de esperanças.
Abri os olhos, continuei a caminhar na estrada que se abria à minha frente.

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