11.11.04

pincéis, tintas de outros tempos


(Frederick Leighton )

Os meus passos pisam o silêncio da grande sala dourada. Levanto sons de outros tempos, brilhos antigos reavivados em reflexos de espelhos.
Sento-me à beira das vozes, audíveis apenas no desenho do tecto e sinto sombras de mãos tocando cores que se movimentam em pincéis.
Como Pandora, abro a caixa. E as cores saltam, disputando-se tonalidades, reclamando olhares que se adivinham em sentires de figuras mitológicas. Em excessos de paixão a mão de Vénus ilumina sabiamente amores, espalhados em esplendor de tintas, acolhidos em recantos de luxúria de belos leitos dourados.
E de novo as vozes se movimentam lançando pinceladas de flor de anil em realce de verde montanha. Alisando o desenho, os ocres, o almagre, o vermilhão e a sombra de colónia, desafiam o verdete, as folhas de prata e de oiro verde. E as mãos enchem-se de ternura, agarram o maquim sorrindo ao amarelo cor de limão e acariciando a cor de oiro. Com ele, o mestre ilumina o sentir de afectos, transbordados no debuxo dos painéis.
Em sobressalto, fecho a caixa. O som das vozes aquieta-se. Mas sei, que noutro tempo, o que restou dentro dela permitirá reavivar o silêncio que os meus passos levantaram.

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