12.10.05

diz-me das incertezas...

...Hoje aborrece-se o definitivo e seguro, e em consequência o já fixado no tempo; e é em parte por isso que se detesta também o passado, a menos que se consiga contaminá-lo com a nossa vacilação, ou que se possa contagiá-lo com a indefinição do presente, já se tenta sem parar. Hoje não se tolera saber que uma coisa foi; que tenha sido já e tenha sido assim, como foi, de ciência certa. Na realidade não se tolera não já sabê-lo, mas sim o seu mero ter sido. Mais nada, só isso: que tenha sido. Sem a nossa intervenção, sem a nossa ponderação, como dizer, sem a nossa indecisão infinita nem a nossa escrupolosa aquiescência. Sem a nossa tão querida incerteza, como imparcial testemunha.

Javier Marias, O Teu Rosto Amanhã


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