6.3.07

house not at home



anoitecia-me o corpo e sabia-me corpo ausente na penumbra da casa
onde outrora desordenado coração. agora apertava-me nos seus braços
a casa e eu tão dentro do assombro do inverno das mãos soltas do inverno que
partia e em mim o que se despedia não tinha nome. apertava-me
nos seus braços a casa e eu já não reconhecia a casa nem os rostos
empalideciam os rostos nas molduras como frutos derramados
rostos desfolhados em pétalas sobre as molduras
de outrora tão desordenado coração


foto de andrzej jakubezyk

7 comentários:

sophiarui disse...

é incrivel como escolhes exactamente as fotos que me "prendem" quando pesquiso no "alt"... gosto muito... e os texto...

continuarei por aqui a "ler-te"...

abracinho

musalia disse...

sophiarui, habita-nos gosto idêntico, creio:)

e eu esper encontrar-te em cada esquina da casa:)

abracinho, também.

Pedro Branco disse...

Procurei-te no meu corpo junto ao soalho do postigo. No armário apenas um conjunto de roupas do avô. No baú ainda os projectos das nossas brincadeiras das tardes sem aulas. Hoje nada disso te interessa porque sabes que naquela casa nunca foste. Eu fui. Quando tu chegaste tinhas sido ultrapassada pelas memórias. Do soalho do postigo. Do armário. Do baú. Porque as memórias atrapaçham sempre as procuras do corpo...

Deixei-me então estar sem te ter encontrado. Perdido na certeza dos silêncios. Feliz. Afinal, não pertences a este lugar. Mesmo que me pertenças...

Beijo.

musalia disse...

dessa casa guardo o aroma das maçãs, daquelas que apanhávamos no pomar no caminho de regresso das aulas, tu rias-te dos meus medos quando o céu teimava rebentar em tempestade e era no soalho do postigo que nos abrigávamos trincando as maçãs eu com os olhos fechados para não ver o clarão do relâmpago e já não sabia o que me afagava os lábios se o sabor do fruto ou o teu riso desmanchado.
depois vinha o silêncio e abriam-se-me os olhos para o teu olhar onde o riso se escondera e a casa era já imensa e tão pequena onde não conseguia esconder a surpresa da descoberta...
depois, não sei como, o tempo passou, tão depressa, furtivo, levou-nos para longe da casa e não regressámos mais.
hoje são as memórias dos momentos que não trocámos dos gestos em que nos perdemos um do outro.

Curioso, quando abrimos um baú salta sempre um caderninho amarelado e imaginamos a nossa própria história :)

gostei deste momento, Pedro Branco:)

beijo.

clarinda disse...

este texto está muito bonito. que vejo eu aqui? alguém que sente o efeito do tempo e sofre. a casa terrivelmente fria, os rostos tranformados em pétalas, enquanto o coração bate. pensas que está calmo? não, não está, embora não vibre como outrora

musalia disse...

laerce

as casas da nossa infância, têm esse efeito sobre nós. espaços que já não nos pertencem, fisicamente. onde sentimos mundos perdidos para sempre.

beijinhos.

Inês disse...

...*