30.1.08

puzle_of_love


Olhos cinza, a cor que o mar toma quando sopra nortada, timidez sobrando-lhe na voz, o Nuno. Perdido em imaginações, naquele silêncio onde despertam todas as sombras. Chegava sempre a seguir ao almoço, não sei o que fazia às manhãs. Sorvia o café a ferver, o frio a forçar o gorro de lã, os cabelos louros em rebeldia caindo-lhe sobre a cara. Chamava-lhe ‘boneco de neve’, os olhos riam em silêncio, adivinhava-lhe as palavras mais do que ouvia o seu som. Por vezes encontrava-o junto à ria, num grupo de amigos, com ar de quem se desempregara da vida, num mundo fechado, apenas seu.
Só o trigana lhe dava algum trabalho, no verão. Partia barra fora, conduzindo os turistas, beira-mar, caminhos secretos que as rochas desenhavam e o barco, cortando ondas em espigas maduras. Como no livro de Dylan Thomas, quem sabe perseguia a rapariga que se transformara em sininho vermelho quando mergulhara no mar. Volta amor, volta, dizia-lhe o Nuno ou era Dylan Thomas, já não sei.





desenho de João Lemos

10 comentários:

sophiarui disse...

"o mar... o mar..." fizeste-me lembrar algumas personagens de iris murdoch...

o mar...

musalia disse...

sim, eu sei ;) mas estes personagens são reais, são, realmente, rostos que vou encontrando (e espero voltar a encontrar)

o mar, o meu mar algarvio. vou revê-lo em breve:)

lamia disse...

Delicioso, Moriana. Deveras.

musalia disse...

lamia, surpreendente quando nos sentamos a um canto e observamos quem vai passando :)

Margarida V disse...

genial!

musalia disse...

obrigada, margarida v.
:)

bruno disse...

muito bom,
musalia. gostei
mesmo muito desta
prosa. abraço
bom, e já agora
(se for a tempo)
bons algarves.

musalia disse...

obrigada, bruno.
não cheguei a ir, infelizmente. imprevistos, paciência. fiquei triste...agora, talvez em março.
um abraço, de longe (estou completamente constipada)

bruno disse...

de perto. como destes digitais e mui subtis afinal se trata - de perto.

musalia disse...

seja. tão mais perto que de perto.