13.3.08

esta manhã acordei vaga e imensa como uma cidade desabitada


acordei céu de luar
sitiada pelo deserto da noite
e sou a bruma indissolúvel
envolvente etéreo de nada
num universo de nebulosas.


sou bruma e penso em símbolos
de horas naufragantes insulares


de mim acordando só bruma
da bruma a acordar em mim
eu inexacta como a linguagem lenta das sombras
de resto nada
infinitamente nada



pura circulação de nada meus rios em meu leito
minhas veias entre eu e mim
em trânsito contínuo para ser outro e ser o mesmo
para meditar o intervalo vazio
entre a pele de dentro e a pele de fora

paulo renato cardoso (excertos de poema)


imagem de alexander_kozhevnikov

4 comentários:

Von disse...

Esta manhã acordei
com o olhar no vidro.
Era o aniversário
de alguém.
Sorri-lhe os parabéns
mesmo sem saber
se olhava na direcção certa.
E depois de reflectir,
abri a janela
e sai... para sempre.

Von

musalia disse...

como se amanhecesemos abandonando um sonho. por vezes é necessário deixar entrar o vazio...para que consigamos de novo, sonhar.
:)

Noktivaguz disse...

obrigado por me dares a conhecer este poema, foi dos melhores q já li!
brutal..
bj

musalia disse...

jim :) saudades, já tinha...

o excerto do poema, muito belo. forte, sim.

beijo.