14.7.04

Alice no País das Maravilhas

O perfume dourado das acácias faz um túnel na dobra da estrada e esse aroma miúdo de cachos aveludados é a passagem secreta para o mundo da infância. Como Alice descobrindo o País das Maravilhas.
Na distância encurtada, as imagens ganham consistência e o verde ácido das maçãs salta ao caminho conduzindo-me ao espaço inicial da vila, repleto de antigos chorões debruçados nas memórias que o olhar recolhe da paisagem disposta em sucalcos pela serra. Tomo a estrada circundando a velha Quinta dos Lilases, de entrada em escadinhas descendo até à eira onde, outrora, o milho acordava em rodopio lançado em travessuras no rolamento dos patins. Continuo a descer, a frescura do musgo cola-se-me às mãos em pensamentos aquecidos pela lembrança de datas festivas e reponho breves apontamentos de fetos ao longo da ribeira no tamanho gigantesco do imaginário da infância. Até entrevejo duendes e fadas por entre o bosque de castanheiros, que antes me saltavam ao caminho tornando a travessia tão apetecida por parecer tão temerosa!
Do outro lado, o cerro acorda o mistério antigo, de acampamentos solitários de ciganos espalhados na memória entre o cheiro acre de eucalipto. E o sabor embriagado dos sentidos exala-se no vermelho alaranjado do fruto que a minha mão rouba ao medronheiro.
Ao invés de Alice, o meu regresso a casa possibilita-se no sonho.

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