O entardecer perdeu a brisa cálida, saborosa, convidativa a percursos descansados. Dei por isso, outro dia, no desfazer de passos matinais, embrulhando os pensamentos nas voltas da baixa citadina. O calor, habitualmente acomodado nas fachadas dos edifícios pombalinos, não acolhia quem passava.
Entre a procura de um agasalho que me aconchegasse o corpo e a alma, e a escolha de um abrigo onde o odor do café quente transformasse o arrepio em bem-estar, hesitei. Seria, la storia del café ou o Martinho da Arcada? Uma sombra, cosida com as paredes, passou por mim e decidiu.
Sob as velhas arcadas o Café, grande de significado mas pequeno em superfície, rebrilhava ainda aos últimos raios de sol, em reflexos coloridos nos vidros das portadas. O degrau, passaporte para o imaginário, transportou-me, Entre o sono e sonho / Entre mim e que em mim / É o quem eu me suponho (..)
Descanso na mesa de tampo em pedra onde repousa um frenesim de folhas rabiscadas. Em frente, a sombra define-se, espreita-me, porém, o meu olhar perde-se no horizonte de azulejos alinhados na parede ao fundo. Mas o olhar, de estar olhando / Onde não olha, voltou / E estamos os dois falando / O que se não conversou (...). Lampejos de palavras, lembradas, não ditas, alinham-se em interrogações irresolúveis, Como é por dentro outra pessoa / Quem é que o saberá sonhar? / A alma de outrém é outro universo / Com que não há comunicação possível, / Com que não há verdadeiro entendimento. (...) E a solidão como sombra individual, não se desgarra, também porque não desejamos separarmo-nos dela, e o que queremos é sempre a meta que se desloca. Cobre-me um sentimento do inatingível, por rejeição, como se o meu espírito olhasse as coisas e dissesse, Quero-as só quando não as possa haver. / Que hei-de fazer das coisas / Que qualquer mão pode colher?
Acabo o café, deliciando-me no último sorvo e saio para a noite. Ouço o som dos meus pensamentos, em protesto teimoso, Não quero a noite senão quando a aurora / A fez em ouro e azul se diluir. / O que a minha alma ignora / É isso que quero possuir.
As sombras diluíram-se, aconchego-me ao calor do corpo que a chávena de café aqueceu e dirijo-me ao barco.
Entre a procura de um agasalho que me aconchegasse o corpo e a alma, e a escolha de um abrigo onde o odor do café quente transformasse o arrepio em bem-estar, hesitei. Seria, la storia del café ou o Martinho da Arcada? Uma sombra, cosida com as paredes, passou por mim e decidiu.
Sob as velhas arcadas o Café, grande de significado mas pequeno em superfície, rebrilhava ainda aos últimos raios de sol, em reflexos coloridos nos vidros das portadas. O degrau, passaporte para o imaginário, transportou-me, Entre o sono e sonho / Entre mim e que em mim / É o quem eu me suponho (..)
Descanso na mesa de tampo em pedra onde repousa um frenesim de folhas rabiscadas. Em frente, a sombra define-se, espreita-me, porém, o meu olhar perde-se no horizonte de azulejos alinhados na parede ao fundo. Mas o olhar, de estar olhando / Onde não olha, voltou / E estamos os dois falando / O que se não conversou (...). Lampejos de palavras, lembradas, não ditas, alinham-se em interrogações irresolúveis, Como é por dentro outra pessoa / Quem é que o saberá sonhar? / A alma de outrém é outro universo / Com que não há comunicação possível, / Com que não há verdadeiro entendimento. (...) E a solidão como sombra individual, não se desgarra, também porque não desejamos separarmo-nos dela, e o que queremos é sempre a meta que se desloca. Cobre-me um sentimento do inatingível, por rejeição, como se o meu espírito olhasse as coisas e dissesse, Quero-as só quando não as possa haver. / Que hei-de fazer das coisas / Que qualquer mão pode colher?
Acabo o café, deliciando-me no último sorvo e saio para a noite. Ouço o som dos meus pensamentos, em protesto teimoso, Não quero a noite senão quando a aurora / A fez em ouro e azul se diluir. / O que a minha alma ignora / É isso que quero possuir.
As sombras diluíram-se, aconchego-me ao calor do corpo que a chávena de café aqueceu e dirijo-me ao barco.
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