18.10.04

traçados


Alinhei-os ao acaso. Não segui tonalidades nem aproximei tamanhos. Cingi-os no pote de vidro negro, redondo, em jeito de molho florido, pontas desafiadoras e prontas a traçar linhas.

O olhar lânguido sobre a folha, esperava ver surgir traços, círculos, triângulos, construindo espaços no espaço. Queria-a suspensa, não sobre a cascata, mas sobre os sonhos que trago na alma, rasgada em transparências, jogando brilhos em tessituras densas, escondidas em recantos adormecidos. Mas as esquadrias teimavam em não se desenhar, e essas geometrias imateriais, imaginadas em flutuações sobre a paisagem, permaneciam presas nas pontas coloridas dos lápis.
Em vão o olhar tentou quebrar o estatismo, desmultiplicando superfícies e emprestando ambiências de plasticidade visual em notas coloridas. Mas a dinâmica do meu espaço interior não conseguiu romper as contenções murárias da folha de papel.

As minhas mãos não têm jeito. A casa não surgiu. Não fui capaz de a construir.

Sem comentários: