29.6.07

a carta


(...)
Há janelas sem conta nestas casas cheias de frontões, de varandas e colunatas, de toda a espécie de ornatos barrocos. Janelas cheias de olhos. ...Há também sombras mascaradas de alegria na esquina dos edifícios com grandes flores de pedra.
Nunca amei tanto a luz como nos dias em que vinhas estar comigo; todas as coisas tinham mais realidade do que aquela que o nome lhes confere.
...Senti-me pela primeira vez eu e não uma coisa para aqui. Com um infinito pudor de te dizer esse milagre, que nem para mim ousava definir.
Tardes em que mordi a vida como quem morde um fruto agridoce e precário, com o sabor universal de que eu estava excluído.


Urbano Tavares Rodrigues, Ao Contrário das Ondas

foto de katia chausheva

25 comentários:

sophiarui disse...

há janelas de frente para o mar!

:)

Esplanando disse...

Realmente... morder a vida é bom!

CNS disse...

A luz... Amar a luz que contorna as sombras que de quem amamos. A luz, que entra a jorros dessa janela.

Belissima escolha!

Inês disse...

*** *** ***

musalia disse...

também, sophiarui. e o horizonte parece mais amplo:)

musalia disse...

pois é, esplanando. é o que fazemos, diariamente. até que a vida nos morda.

musalia disse...

cristina, é uma carta muito bela, esta :)

musalia disse...

um sorriso cheio de sol, também, inês:)

Mateso disse...

Colibri ou miragem.. da janela aberta aos olhos da luz da vida.
Belo, como sempre.
Bj.

musalia disse...

mateso, gostei especialmente deste excerto do livro. mas há outros, igualmente belos :)
bj.

Joana disse...

As janelas são a fonte dos nossos sentimentos...


Foi através desta "janela para o mundo" que te encontrei Amiga. Devolveste-me o sorriso hoje. :)

Obrigada.

Beijinho grande

clarinda disse...

Completamente de acordo com o autor, a janela e as tardes. Como será " ao contrário das ondas"?

Não associo este autor a estas manifestações líricas, ignorante que sou.

Um beijinho

Fallen Angel disse...

Uma carta que entrega ternura... e temos um Urbano com laivos de ingenuidade... « .. com um infinito pudor de te dizer esse milagre ..».. Terno, meigo e envolvente.

musqueteira disse...

...há muito tempo excluído nos sentimentos de quem ama. as janelas são o modo como as passamos vezes sem fim.
um beijo moriana;)

Ariane disse...

Cheguei através do fallen e não me desiludi. É mesmo um espaço lindo. Parabéns á autora. :))

ContorNUS disse...

Aguçou-me o palato ;)

O blog que confere intímidade as palavras. Voltarei

musalia disse...

bom saber isso, Amiga:)

um beijinho, joana.

musalia disse...

laerce

as ondas. trazem mas também recolhem. o contrário será a estagnação? não sei...


beijinhos (tudo a melhorar, por aqui)

musalia disse...

fallen angel, creio que é o amaciar dos anos:) fragilidade, talvez.
(nunca li pudor mais belo:)

musalia disse...

musqueteira, essa exposição? há novidades?;)
espero.

magarça disse...

Aqui se lê a urgência dos dias enamorados..

bruno disse...

um abraço para ti
musalia, que foste
descobrir a pequena nota
de luz ao contrário
das ondas
. numinoso
intangível de tão puro
e que todavia nos descobre
novas artérias no corpo
estalando de tão novo.
(violeta, mas sem acédia
foi recebida ali atrás)

musalia disse...

bruno .b.c, tocam-me os 'pequenos' gestos. quando os sinto, quando os descubro. assim é com a violeta, flor preferida. nasce bravia embora frágil de aparência, junto aos regatos.
fascina-me a melancolia, vivo dentro dela, mas acédia, não. a nossa cultura judaico-cristã rouba-lhe a cor no nome e o nome na cor, conotando-a com a paixão pascal...
e, que me desculpe S. Tomás de Aquino, em discordar das suas considerações...
e assim, te abraço, sem acédia ou acídia.

bruno disse...

sim. e re-recebida,
com a que te fascina
(e não é esse fascínio
da sua natureza?) e sem
a que a nós não. e sim,
mínimo. (há muito que
tirar, para ver.) daqui
vê-se como os abraços podem
crescer. (deixa lá o são
doutor, que soube, e como
é de bom tom, também não, e)
recebe um daqueles.

musalia disse...

bruno .b.c, vou recebendo que é melhor que receber. a flor, o perfume, a cor. num belo laço do que sim. e do que é sua natureza.
e vou dando que é melhor que dar. abraço com nome de alcântara.